Sou Dinossaura Graças ao Meu Pai

Meu Pai sempre dizia: Estuda que você sempre conquistará tudo que desejar.

Acreditei e sempre fui boa aluna. Embora nem sempre comportada. Era briguenga. Ainda sou, mas a vida ensina a gente guerrear com um pouco de diplomacia. Nem sempre consigo …

E mesmo estudando, nem sempre conquistei tudo que quis. Mas errar, ajudou-me a estruturar melhor alguns passos seguintes.

Baile no Clube dos Sargentos

Era uma vez um final de sexta-feira de 1973. Eu estava me preparando para o baile no Clube dos Sargentos perto de casa. E meu pai chegou em casa.

Meu pai era revisor na Folha e São Paulo e ia para casa em alguns fins de semana. Nós morávamos em Lorena, cidade do Vale do Paraíba.

Chegou e falou: você não vai dançar hoje. Pois amanhã você vai se inscrever no vestibular para um curso de computação. Respondi: se eu não puder dançar hoje, então vou reprovar no vestibular. Ele olhou sério e disse. Então você pode dançar e depois vai passar na prova.

Fui para o baile e passei na prova.

Cérebros Eletrônicos

Detalhe, eu não sabia o que era computação. Já houvira falar em cérebros eletrônicos. Mas, para mim, era só ficção científica. Não tínhamos TV e jornais eram só aqueles que meu pai trazia nos fins de semana que vinha para casa. E se eu estudasse computação e me saisse bem, sabia que meu pai me deixaria ir para as festas.

Ácido desoxirribonucleico

Eu queria desde pequena fazer medicina. Mas nas aulas de biologia, quando tive que tentar pronunciar ácido desoxirribonucleico sem conseguir, desisti. As palavras eram absurdamente complicadas. Então pensei em fazer engenharia ou física.

Sem Carteira de Identidade

Mas, em 1973, a carteira de identidade demorava três meses para a gente tirar em Lorena. E a minha não chegara a tempo para eu me inscrever no Mapofei. Eram três vestibulares: Cescem, Cescea e Mapofei. Acabei o equivalente ao ensino médio – o colegial – em 1973. Em 1974, eu faria nada. Cursinhos nem existiam … pelo menos que eu soubesse. E imaginava iniciar os estudo em 1975 … então tinha um ano para refletir e principalmente me divertir.

Passei no Vestibular

Porém, como falei: passei no vestibular para Tecnologia de Computação no Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Minhas aulas começaram um 4 de março de 1974, pouco antes de eu fazer 18 anos. Apenas a Engenharia era exclusivamente masculina. Ainda bem que a Computação era mista, pois em caso contrário nem sei como eu iria me disfarçar de menino.

Fluxogramas

Primeira aula: Fluxogramas com o Professor Floriano. Não lembro o sobrenome dele. Mas até hoje, rabisco fluxogramas e esquemas para minhas tarefas diárias e projetos maiores. O ensinamento ficou para a vida. Grata professor Floriano.

E ainda durante a semana, tivemos a primeira aula de programação Assembler com o professor Rauh. Linguagem que usei em boa parte da minha vida, garantindo o meu pão de cada dia. Também tive o privilégio de estudar matemárica com o professor Francisco Antônio Lacaz Netto. Tive aulas com o Professor Almeida e a outra disciplina acho que foi com Jeremias Chrispim. Vinte anos depois de formados, o professor Chrispin ainda estava presente nas nossas reuniões de ex-alunos.

Assim, uma decisão do meu pai, que aceitei para poder continuar a dançar traçou a minha vida e lhe sou infinitamente grata.

Computação como Estrutura

Embora eu navegue por áreas como Acupuntura, Astrologia, Medicina Chinesa, Alimentação, Literatura, Websites, Copywritter e agora Marketing Digital, a minha trajetória em Computação me fornece uma forte estrutura para eu caminhar com segurança entre os diversos mundos.

Usei cartão perfurado, fita de papel perfurada, IBM1130, IBM360, Analógicos, Digital, HP, Intertechnique, etc. Por isso sou uma dinossaura … estou no Universo da Computação há quase meio século.

Meus Filhos

E meus filhos se iniciaram nesse universo mais jovens que eu. Os mais velhos tiveram as primeiras noções de computação com 6 e 7 anos num TK200 ligado a uma TV preto e branco programando em Basic.

Outro filho, aos 6 ou 7 anos digitava “dir” ainda no DOS e depois escrevia cada palavrinha, que tinha aparecido na tela que terminava em .exe para achar os joguinhos.

E o caçula, antes de aprender a ler, usava um programa de desenho, nem lembro o nome. Ele desenhava com o mouse no monitor e mandava imprimir seus desenhos.

Profissionais de TI e Dinossauros

Hoje, todos meus filhos são excelentes profissionais (mãe baba, desculpem) fortemente ligados à área de TI. E aprender computação, apenas fez bem a eles.

Filhos de Dinossaura, Dinossaurinhos são. Também somos todos Jacarés.

Grata Pai.